Homilia de Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte e Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, na Solenidade de Santo Antônio de Pádua na Paróquia de Santo Antônio de Venda Nova

13 de junho de 2022.

“Amados irmãos e amadas irmãs, na alegria da festa de Santo Antônio, nosso padroeiro, a todos votos, que estendo de modo especial ao padre Zezinho, ao padre Celinho, ao padre José Aroldo, ministro, evangelizadores e a todos aqueles que se empenham para dar continuidade à história missionária e à presença vigorosa da Igreja aqui em Venda Nova a partir dessa querida paróquia, neste lugar historicamente tão importante, portanto, congregando aqui muitas e importantes heranças de famílias, testemunhos, de vivência da fé, de cuidados dos pobres e de ajuda para construir uma sociedade que tenha o sabor do evangelho.

Minha saudação está revestida de uma grande alegria e de uma grande gratidão por ver o adiantado da construção dessa casa de Santo Antônio, casa do Pão e da Palavra. Eu sei da luta, acompanhei também de perto a luta que não é pequena, que ainda tem um caminho a ser percorrido e que precisa da presença, da ajuda, da compreensão e do apoio humano, espiritual e material de todos.

Porque essa casa da Santo Antônio será digna dele e será um grande um monumento a Fé Cristã Católica e ao Povo de Venda Nova. O Povo de Venda Nova, por sua história e por seu caminho, merece um monumento sacro bonito como este. Por isso estão de parabéns! Esse caminho é sofrido, exigente e muitas vez até com incompreensões, mas também, e sobretudo, com um mar de colaborações e de comunhão. Fico tão feliz pela beleza do que estou vendo e que antecipa a grandeza do que vai ser para perpetuar na história esse caminho que tenho vontade de bater palmas para vocês.

(Dom Walmor aplaude a comunidade, que também aplaude.)

A nossa Igreja, espalhada pelo mundo inteiro, não constrói templos por construir, mas – como bem lembrado – para espalhar a casa do pão e a casa da palavra, para alimentar o povo com a força da Palavra de Deus e com a Eucaristia e produzir no coração de cada pessoa uma transformação que só a Graça de Deus pode. O coração Humano, sobretudo no nosso tempo, embora a nossa inteligência humana tenha nos dados a oportunidade – está nos dando – de avanços e de conquistas na tecnologia e na ciência, mas o nosso coração humano tem se distorcido muito. E se afastado de maneira irracional do bem, da verdade e da justiça. É um perigo o que nós estamos assistindo, porque pode contaminar o coração de qualquer um de nós. O que estamos assistindo é um mundo que tem possibilidades de muito construir e muito avançar, mas ao mesmo tempo ele está se autodestruindo. É lamentável quando nós verificamos em muitos lugares, em muitas circunstancias a partir de atitudes de pessoas, a ilusão de que se constrói algo destruindo outro. Que se constrói a própria vida destruindo a dos outros. Que se constrói um tempo novo e de maior desenvolvimento destruindo a natureza, a casa comum.

Há uma lição que nós precisamos aprender: é uma lição de sabedoria. Porque quando menos esperarmos estaremos pagando um alto preço de grandes prejuízos, irmãos e irmãs. Por isso não são poucos os focos de guerra no mundo. Ainda ontem recebi pedindo solidariedade e ninguém quase sabe e nem fala da terrível guerra que está em Moçambique, exatamente na região de Pemba. Mais de 800 mil pessoas fora das suas casas, vivendo tragédias, penúrias. Religiosas e religiosos inseguros em razão da guerra.

E a guerra que nasce do desvirtuamento do coração humano, ganância, desejo de poder. Pensar equivocado de que se pode chegar lá na frente, conquistar e construir pisando nos outros, destruindo, desmoralizando. Celebrar então a festa de Santo Antônio nesses cenários mundiais – ele que permanece como referência tão importante e bonita ao longo da história, uma referência que não morre e não passa – significa aprender e renovar o desejo de ter um coração marcado pela graça que marcou o coração de Santo Antônio. Nele há um segredo: em Santo Antônio não tem uma mágica, tem um segredo. E o segredo de Santo Antônio é a graça de Deus agindo na sua vida. Fazendo dele um grande instrumento para dizer que nós, ainda que não sejamos grandes como ele, podemos e devemos ser instrumento do amor de Deus no coração do nosso mundo.

Para isso tem um itinerário. Isto não se faz com artimanhas, isto não se faz com jogo político, isto não se faz com ganância. Pelo contrário! Isso se faz com a graça de Deus! Por isso, ao proclamarmos hoje aqui nesta festa, nesta querida igreja de Santo Antônio em venda nova, este trecho do capítulo 61 de Isaías é o profeta lembrando-nos que existe, da parte de Deus, uma pessoa. Uma pessoa que é a fonte inesgotável e que é, na medida em que com ela nos encontramos e por ela nos deixamos apaixonar, a exemplo de Santo Antônio, é que brota em nós um coração alargado com força de não nos deixar contaminar.

O coração nosso, humano, que é para ser coração da presença de Deus, muito facilmente se contamina. O dinheiro seduz, o poder corrompe, a maldade leva a se viver na contramão da fraternidade. A mesquinhez leva inclusive à indiferença aos que sofrem, com os enfermos e com os pobres. É terrível! A mesquinhez nos mata, dentro do coração, a solidariedade, que se existir, sem sacrificar ninguém, é o remédio para superar males terríveis como esse da miséria e da fome que nós estamos acompanhando e vendo, irmãos e irmãs, aos milhões, sofrerem na sociedade brasileira.

Tem uma pessoa que pode nos salvar de tudo isso: é o Messias anunciado, aquele enviado para levar a Boa Nova aos pobres, curar os corações quebrantados, proclamar aos cativos a libertação e proclamar o ano do agrado do senhor. Esta pessoa tem um nome e esta pessoa se torno a paixão de Santo Antônio e por isso ele o leva nos braços. Tornou-se a paixão de Santo Antônio por um caminho que não tem outros que o substitua: a Palavra de Deus. Nós o vemos com aquele que se torna a paixão maior dele, em seus braços, sobre a Palavra Santa de Deus. Porque cristo é a Palavra de Deus encarnada. Ouvi-la permanentemente é tornar-se apaixonado por Ele. Com uma clareza que vem na inteligência e no coração nos capacitando para compreender a direção nova de nossas vidas. E a experimentar, irmãos e irmãs, uma sabedoria que não tem em livro. Mas que só tem na experiência do encontro pessoal com Ele.

Foi o que seduziu Santo Antônio, foi o que fez a sua opção vocacional, foi o que fez dele um outro discípulo de que precisamos na messe grande de poucos operário: esse admirável homem de Deus! E é admirável porque a gente pode pensar assim: tem gente que é esquecida de um ano para outro, tem gente que é esquecida de um dia para o outro. Santo Antônio é lembrado há mais de oito séculos no mundo inteiro. Aqui na nossa Arquidiocese de belo horizonte são dez paróquias dedicadas Santo Antônio. Sua força não vem porquê ele era um grande inteligente, e era! Por isso dele se dizia conhecer a Sagrada Escritura de cor.  Ele se tornou grande referência, fez o que fez, é fonte perene dos milagres da mão de Deus por causa de sua intimidade com Ele. E essa também é uma condição para que nós possamos dele receber bênçãos, intercessão e milagres.

Aprendamos com ele. O nosso coração é muito precioso. O que cada um de nós guarda no coração é muito importante. E é o coração da gente, com aquilo que a gente guarda, que dá rumo a vida, faz a gente caminhar sem perder a direção, faz a gente caminhar sem tropeçar. Mas isso só é possível quando se nutre, a exemplo de Santo Antônio, uma grande paixão por ele, Cristo. E nos compreendendo, mesmo nos limites da nossa vida, que somos discípulos missionários e discípulas missionaras de Cristo. Como devotos de Santo Antônio, esperados por direito e devoção que ele nos proteja e por nós interceda, temos também um compromisso importante: o compromisso de espalharmos o Amor de Deus no mundo. Para que não caia sobre nós – e cairá sempre sobre quem espalhar desamor, ódio e violência – cairá sobre sua própria cabeça as consequências do que espalha.

Sejamos, a exemplo de Santo Antônio, alimentados como ele o foi, por uma paixão insubstituível e inigualável por Cristo. Sejamos, como Santo Antônio, discípulos e discípulas, ajudando, a partir de nossa família, da comunidade de fé e do mundo, como Igreja missionaria, ajudando o mundo a ser um mundo melhor. E cuidando, a exemplo dele e por sua inspiração, a cuidar do nosso coração. Assumamos hoje o compromisso de ter um coração bom e permanentemente limpar o nosso coração de tudo aquilo que está na contramão do amor. Não vale a pena, só vale a pena viver por amor! E o nossos amor maior, como Santo Antônio nos inspira é Cristo Jesus. Se assim o fizermos, seremos abençoados.

Que essas bênçãos nãos nos faltem. Amém!”

Link para a Missa completa: https://youtu.be/bJkOtx7H6xM?t=2060

CELEBRAÇÃO MATUTINA TRANSMITIDA AO VIVO

DA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO 

“Pedir perdão implica perdoar”

Terça-feira, 17 de março de 2020


Introdução à Santa Missa

Hoje gostaria de rezar convosco pelos anciãos que sofrem neste momento de modo particular, com uma solidão interior muito grande e por vezes com tanto medo. Peçamos ao Senhor que esteja próximo dos nossos avôs e avós, de todos os anciãos, e que lhes dê força. Eles transmitiram-nos a sabedoria, a vida, a história. Também nós nos façamos próximos deles com a oração.

Homilia

Jesus tenciona fazer uma catequese sobre a unidade dos irmãos e acaba por proferir uma bonita expressão: “Asseguro-vos que se dois ou três de vós, chegarem a um acordo e pedirem uma graça, ela ser-vos-á concedida». A unidade, a amizade, a paz entre os irmãos atrai a benevolência de Deus. E Pedro faz esta pergunta: “Sim, mas o que devemos fazer com as pessoas que nos ofendem? Se o meu irmão pecar contra mim, se me ofender, quantas vezes deverei perdoá-lo? Até sete vezes?”. Jesus responde com aquela palavra que, no idioma deles, significa “sempre”: “Setenta vezes sete”. Devemos perdoar sempre.

Mas não é fácil perdoar. Porque o nosso coração egoísta está sempre apegado ao ódio, às vinganças, aos rancores. Todos vemos famílias destruídas por ódios familiares que passam de geração em geração. Irmãos que, diante do caixão de um dos pais, não se saúdam porque levam adiante rancores antigos. Parece que o apegar-se ao ódio é mais forte do que o apegar-se ao amor; e este é propriamente o tesouro – digamos assim – do diabo. Ele esconde-se sempre entre os nossos rancores, entre os nossos ódios e fá-los crescer, mantendo-os ali para destruir. Destrói tudo. E muitas vezes destrói por coisas insignificantes.

E também se destrói este Deus que não veio para condenar, mas para perdoar. Este Deus que é capaz de fazer festa por um pecador que se aproxima e esquece tudo. Quando Deus perdoa, esquece todo o mal que fizemos. Alguém dirá: “É a doença de Deus”. Nestes casos Ele não tem memória, é capaz de perder a memória. Deus perde a memória das histórias terríveis de tantos pecadores, dos nossos pecados. Perdoa-nos e segue adiante. Pede-nos apenas: “Faz o mesmo: aprende a perdoar”, não leves adiante esta cruz infecunda do ódio, do rancor, do “vais pagar por isto”. Esta palavra não é nem cristã nem humana. É a generosidade de Jesus que nos ensina que para entrar no céu devemos perdoar. Aliás, diz-nos: “Vais à Missa?” – “Sim” – “Mas se fores à Missa e te recordares que o teu irmão tem algo contra ti, primeiro, não venhas ao meu encontro com o amor por mim numa mão e com o ódio pelo irmão na outra”. Coerência de amor. Perdoar. Perdoar de coração!

Há pessoas que vivem condenado o próximo, falando mal dos outros, difamando continuamente os seus colegas de trabalho, os vizinhos, os parentes, porque não perdoam algo que lhes fizeram, ou não perdoam algo que não lhes agradou. Parece que a riqueza própria do diabo é esta: semear o amor não perdoando, viver apegado ao não-perdão. Mas o perdão é a condição para entrar no céu.

A parábola que Jesus nos narra é muito clara: perdoar. Que o Senhor nos ensine esta sabedoria do perdão, a qual não é fácil. E façamos algo: quando formos confessar-nos, quando recebermos o sacramento da reconciliação, antes perguntemo-nos: “Eu perdoo?”. Se sinto que não perdoo, não devo fingir que peço o perdão, porque não serei perdoado. Pedir perdão significa perdoar. Ambos caminham juntos. Não podem separar-se. E quantos pedem perdão para si, como aquele senhor a quem o patrão perdoa tudo, mas não perdoam os outros, acabarão como aquele senhor. “Assim vos tratará o meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar ao seu irmão, de todo o coração”.

Que o Senhor nos ajude a entender isto e a abaixar a cabeça, a não ser soberbos, a ser magnânimos no perdão. Ao menos a perdoar “por interesse”. Como é possível? Sim: perdoar, pois se eu não perdoar, não serei perdoado. Pelo menos isto. Mas perdoar sempre!

Link: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/cotidie/2020/documents/papa-francesco-cotidie_20200317_adorazione-benedizione-eucaristica.html