A representação de Santo Antônio, muito comum em toda região das Minas Gerais, sempre carrega traços que revelam as características da comunidade que a venera. Em Venda Nova, Santo Antônio é um jovem de hábito franciscano, representação diversa da que observamos em Roça Grande, Sabará, onde Santo Antônio está vestido como sacerdote. Aliás, além de sacerdote, o Santo Antônio de Roça Grande é peregrino: reza a lenda que a imagem, saindo de Santa Luzia, escolheu o lugar em Sabará onde milhares de fiéis o veneram até os dias de hoje.

Em Venda Nova, Santo Antônio tem um ar de leveza único. Não é o peregrino de Sabará, mais o jovem que quer fazer morada, fixar lugar em plena rota de tropeiros. Santo Antônio pequenino fez morada em nosso meio, no coração de Venda Nova. Sua fama de ser milagreiro correu pela região. Há relatos de um pai que, tomado de desespero por não ter dinheiro para alimentar os filhos, pediu ajuda ao Santo Antônio pequenino. Foi atendido ao sair da Igreja: ganhou uma contribuição que era suficiente para comprar alimentos para o mês. Após muitos anos, o homem, já idoso, veio rezar no dia de Santo Antônio. Reencontrou-se com a pequena imagem para a qual fez o pedido. A imagem, outrora abandonada, tinha sido redescoberta.

O Menino Jesus que Santo Antônio carrega já não é o original. Foi esculpido pelo artista plástico Edivaldo Amaral durante o período da restauração, realizada pela equipe do CECOR (UFMG) em 2016. A pintura original foi recuperada por baixo de várias camadas de tinta. A madeira, infestada por cupins, foi ganhando os cuidados necessários. Por muito tempo esse patrimônio foi deixado de lado… e tantos outros patrimônios, materiais e imateriais.

Agora restaurada, a imagem nos recorda o desafio que estamos enfrentando como paróquia: construir uma nova matriz de Santo Antônio não é um projeto que quer apagar ou, ao contrário, repetir a história. Queremos integrar o passado para que nosso futuro seja construído sobre bases mais fortes. Depois de três igrejas demolidas por conta dos efeitos do tempo, queremos uma Igreja que tenha pilares firmes, mas não só isso: queremos aprender a cuidar melhor do que temos, dando valor ao patrimônio que a comunidade construiu. Que nem o Santo Antônio pequenino nem a nova igreja matriz de Venda Nova seja abandonada! Que nossos patrimônios sejam bem guardados, especialmente o maior deles: a fé inabalável do povo de Venda Nova, fé que se tornou cada vez mais forte apesar do tempo e nunca esmoreceu diante dos inúmeros desafios.